quarta-feira, 29 de outubro de 2008

1.1 Elliott Smith - Whatever (Folk Song In C)


Domingo Parte I(A contradição)


Y: E esses fogos são pra que?
X: Que fogos?
Y: Estes mesmo, os de artificio que os meninos do final da rua andam queimando todo dia de manhã?
X: Eles comemoram!
Y: Mas como poderiam comemorar? Caminham descalços, não têm dinheiro pra comprar fogos, eles devem roubar...
X: Pois então devem comemorar o sucesso do furto.
Y: E você? Acha certo?
X: O que eu tenho que achar ou não achar?
Y: Nada, esqueça! Você também nunca acha nada em ambos os sentidos
X: Como assim?
Y: Você sabe o que eu quis dizer
X: Não sei, explica!
Y: Você que não pensa e nem procura, como há de "achar" alguma coisa?
X: E você sempre faz isso, arranja discussões idiotas pra poder me atacar no final delas.
Y: Não são ataques, pelo menos não é dessa maneira que eu quis que você entendesse
X: É um pedido de desculpas?
Y: Talvez, mas sua pergunta só faz reforçar minha teoria
X: Sinto que agora você vai me ofender.
Y: Iria, melhor não falar...
X: Agora você fale, não viva pela metade, não deixe de dizer tudo o que quer meu amor.
Y: E isto de "meu amor"? Da onde surgiu?
X: Do passado, não se lembra? O amor era rotina, ainda tenho esse costume, você não?
Y: Eu não, me refiro a você com um adjetivo clichê e antigo repetido duas vezes e separados por uma vírgula
X: Disso todo mundo sabe, acham graça...mas não estrague a confusão.
Y: Que confusão?
X: A do leitor meu amor, te conheço e nesse domingo sei que escolheu escrever em diálogo pra confundir, contradizer, dissimular...
Y: A dissimulada sempre foi você, além disso como eu estraguei a confusão toda, contando sobre o adjetivo?
X: Vão saber quem eu sou.
Y: Mas ja sabem, sempre souberam... você sou eu.
X: Eu sou você, sou tudo de bom que existe em você.
Y: Por que te magoei então? Por que continuo criando teorias pra te ofender?
X: Porque você tinha medo de me perder ao acaso, portanto agilizou todo o processo de perda com atitudes egoístas e rudes pra que pudesse ter certeza da razão pela qual me perdeu.
Y: Perdi?
X: Perdeu, tanto que eu não te liguei, não apareci na sua porta, não mandei email, nem sinal de fumaça, eu não estou aqui.
Y: Se você não vai estar, por que eu ainda espero?
X: Porque você me ama, mas percebeu tarde demais quando você pra mim já não era nada, ou porque você precisa das minhas orientações pra ser alguém decente.
Y: Tem razão, você sempre teve razão, melhor eu deixar você partir, essa discusão imaginária não vai nos levar a lugar algum.
X: Não, continue... sei que você se sente bem fazendo isso, parece estar mais perto de mim, não parece?
Y: É verdade, hoje é domingo e eu queria me sentir mais perto de você.

1.2 Drive-By Truckers - Two Daughters And A Beautiful Wife


Segunda Parte II

(A interpretação)

X: Você não vai contar?
Y: Contar o que?
X: Sua teoria... aquela que vai me ofender.

Y:É simples, diz só que você nunca entende nada
X: É você quem tem entendido tudo por nós duas, eu não sou mais eu, sou só a extensão dos teus pensamentos, mas prossiga...
Y: Tudo o que eu dizia antes e até as coisas que eu digo agora você inverte, bobeia na interpretação, você nunca entendeu o que eu quis pra gente.
X: A culpa disso é toda sua, você que planejou demais, calculou demais, você falava qualquer coisa ja pensando em como queria que eu interpretasse e respondesse.

Y: Isso eu até admito, me irritava o fato de você nunca corresponder minhas expectativas, as peças, os filmes, os almoços importantes, você nunca compareceu, você não se importava? não me queria?
X: Não sei, acho que não era bem dessa maneira, não era por não querer, mas somos sim de mundos diferentes como você costumava dizer.
Y: Outro exemplo pra comprovar minha teoria, você acabou de citar outro exemplo...
X: E você discorda que somos de mundos diferentes?
Y: Não, nós somos mesmo, mas quando eu disse isso não era pra você ter entendido da forma como entendeu.
X: E eu entendi...?
Y: Entendeu que eu arranjava desculpas pra brigar e argumentos pra romper contigo.
X: E como deveria eu ter entendido?
Y: Deveria ter entendido que de tanto te amar eu romperia as barreiras, viveria no seu mundo ou te arrastaria pro meu, se ao menos eu tivesse tido um pouco mais de tempo...

X: Você teve tempo suficiente, me pergunto inclusive se você e seu famoso e brilhante "maquinário" já fizeram as contas de quantos segundos, horas e dias você teve.

Y: Contei, sempre conto, quer que eu te fale quantos foram?

X: Não é preciso, eu já sei.
Y: Você calculou também?
X: Claro que não, a mim pouco interessa o número de dias felizes que te dei de bandeja.
Y: Então como você sabe?
X: Estou dentro da sua cabeça, vejo todos os seus pensamentos, cálculos e teorias... conheço cada parte em você que enoja ou encanta.
Y: Agora descobri, você não me ama.

X: Disso você ja sabia faz tempo, o que descobriu hoje foi o motivo pela qual eu realmente não a amo.
Y: Sim, você não me ama e nunca amou porque me conheceu, eu sou assim tão desprezivel?

X: O suficiente pra ganhar minha indiferença.

Y: Hoje é segunda-feira, ainda?

X: Sim, por que?

Y: Porque agora eu sei onde eu errei, se eu vestir minha máscara de novo eu posso encontrar alguém.

1.3 Frida Hyvönen - Today Tuesday


Terça Parte III

(A amnésia)

Y: Eu devia te agradecer por tantas coisas
X: Mas não precisa
Y: Você gosta das terças-feiras? Eu não lembro uma terça-feira que você tenha passado comigo,
X: E eu não lembro de nenhum dia contigo, nem os domingos, conhece memória seletiva?
Y: Queria não conhecer, ou melhor, queria eu poder deletar da minha os dias com você.
X: Mas no seu ponto de vista os momentos foram bons, por isso você não consegue parar de mima-los com saudades.
Y: Não, eu me torturo pensando no quanto eu errei.
X: De fato você errou demais, mas ainda há tempo e chance de esquecer
Y: Agora estamos parecendo protagonistas do "Bilho eterno de uma mente sem lembranças", e se eu te apagar e um dia nos encontrarmos de novo?
X: É pouco provável que isso aconteça, aliás eu diria que é impossível
Y: Você costumava dizer que nada é impossível.
X: Mas isso é, não vamos nos encontrar nunca mais, eu tenho fugido com eficiência de você, não percebeu?
Y: Queria não ter percebido, do que você tem medo?
X: Em relação a te encontrar?
Y: Sim, porque evita tanto.. eu nunca quis te fazer mal algum, só tem coisas que eu queria te contar.
X: São coisas que eu não quero ouvir?
Y: Não sei, se eu soubesse dizer apenas o que você quer ouvir...
X: Não faria muita diferença... você continuaria sendo insignificante, mas conte-me.
Y: São bobagens, coisas que acontecem no dia-a-dia, me ensinaram como flertar com alguém em quatro passos, mas disso eu te conto depois, agora quero entender seu medo.
X: Pra que ficar exausto tentando entender um medo de algo que nunca vai acontecer?
Y: Nunca?
X: Nunca mais!
Y: Tudo bem, eu entendo sua aversão, mas daqui a quatro dias você vai sumir de mim, então por favor coopere com a minha teimosia, me diz do seu medo.
X: Tenho medo de vomitar se eu te ver de novo
Y: Mentira?
X: Não necessariamente, você sabe... salsichas me fazem mal, se eu as tivesse comido antes de te encontrar...
Y: Pare X, não quero brincar com isso.
X: Só estou supondo características para situações que nunca vão acontecer.
Y: Se formos falar de suposições vou pensar na música...
X: Tenho medo do silêncio!
Y: Se estivéssemos em silêncio eu ligaria o rádio pra ouvir a música e te olhar por horas, dias, por outras estações, até a primavera terminar...

1.4 Regina Spektor - Fidelity

Quarta Parte IV

(A suposição)


X: E esse papo de música?
Y: Não é papo, é música, qual o problema?
X: Problema nenhum, só queria saber porque você falou de música, mas isso é exemplo pra confirmar minha teoria.
Y: Desde quando você tem teorias?
X: E por que o espanto? Não sou inteligente o bastante pra isso?
Y: Você é, agora eu vejo que você é muito inteligente.
X: Eu sempre odiei suas ironias
Y: Que bom que dessa vez não estou sendo irônica

----------------------------------------------Silêncio---------------------------------------------------


X: Estávamos indo bem até agora, não acha?
Y: Eu acho e por que paramos de ir bem?
X: Porque você nos calou, deixou o silêncio tomar conta da gente, eu até achei que demorou pra isso acontecer.
Y: Perdi a oportunidade de ter ligado o rádio, sincronizado a música, te beijado...
X: Você me beijaria?
Y: Se eu pudesse sim, pra descobrir como me sentiria, como você se sentiria, mas só se você também quisesse e se a música estivesse tocando.
X: A teoria era sobre isso
Y: Sobre os beijos?
X: Não, seus beijos eram insossos e só, a teoria era sobre os seus cálculos e planos.
Y: Não seja tão implicante, não sou assim tão calculista.
X: Você sabe que é, contava até a metragem da sua casa com os teus pés, contava os passos, as horas e as gramas só pra não ter que contar seus segredos.
Y: Eu me fechei pra todos os mundos, tive medo...
X: Das salsichas?
Y: De você.

---------------------------------------------Silêncio---------------------------------------------------


X: Hoje é o quarto dia do projeto e já estamos tropeçando nas palavras.
Y: Eu sei, estou até gaguejando.
X: Isso é normal, você sempre gaguejava.
Y: Ficava nervosa perto de você, me faltava fôlego, me sobravam gestos, como o aluno mais tímido da escola... aquele que geralmente se apaixona pela professora.
X: Você se apaixonou?
Y: Só uma vez e você?
X: Uma ou duas, por pessoas e coisas que você não conhece.
Y: Você supera tão fácil.
X: Ja tentei te ensinar, você não quer aprender.
Y: Como poderia? Isso sim seria irônico, uma meta-linguagem amorosa, a única pela qual me apaixonei me ensinando como esquecer tal sentimento.
X: Você sempre adorou as ironias.
Y: É verdade, isso tudo é irônico, já percebeu que a última palavra nos diálogos é sempre minha? Quando na verdade elas foram sempre as suas, suponha que você gosta do projeto, suponha que se importa com as minhas brincadeira literárias, a última palavra de hoje será só sua.
X: Não fale "suponha", me lembra da música, eu penso na possibilidade de um beijo...
Y: Te da dor de cabeça?
X: Sim
Y: Se um dia eu te encontrar, se a música estiver tocando e principalmente se você não tiver comido salsichas, eu vou...
X: Sorte a minha que nunca mais vamos nos encontrar!
Y: Sorte tua, não se esqueça que hoje a última palavra é você quem dá, diz qualquer coisa...
X: Éramos felizes nas quartas-feiras.

1.5 Maroon 5 - Better That We Break


Quinta parte V (O orgulho)


X: Doeu muito?
Y: O que?
X: Me deixar falar por último...
Y: Você sabe que sim, ainda mais numa quinta feira, nesses dias você sempre foi à última a falar.
X: Se vamos conversar sobre palavras me avise.
Y: Pra você se retirar?
X: Pra eu me preparar, essas nossas discussões sempre foram demasiadamente técnicas, com direito inclusive a consultas no dicionário.
Y: Como das vezes em que eu te reprimia por você dizer "te adoro"?
X: Pois é, você sempre soube que eu usava o verbo errado
Y: Você também?
X: Eu também, apesar de tudo eu tentava acreditar que ele estava certo, mas com as suas grosserias o verbo em si tornou-se um erro.
Y: Sinto falta de ti corrigir, sinto falta do verbo no imperativo, quero que você mande em mim de novo
X: Por bom senso ou teimosia?
Y: Pelos dois, você sabe o que é certo pra mim.
X: Eu sabia antes e você não me ouviu.
Y: Agora eu escuto tanta coisa, vou te ouvir amor, prometo que vou me importar...
X: E isto de "amor"? Vai copiar na quinta feira o erro que cometi no domingo?
Y: Não, me desculpa... Foi sem querer, eu nunca te chamava de amor, nem falava sobre ele, eu não te ligava pra dar boa noite e nem dizia o quanto você era incrível, me arrependo de tantas coisas, devia ter te olhado mais, eu devia...
X: Não devia antes e não deve nada agora, levanta da cadeira, vai sair, vai me esqueçer...
Y: Não consigo, ja tentei, faltam dois dias, duas folhas... E se você sumir? Se nem esses diálogos malucos me consolarem mais?
X: Você encontra outra.
Y: Só quero você.
X: Pra que essas confissões agora?
Y: Porque aqui está frio, tão frio e eu queria que você se deitasse comigo...
X: Aqui também está frio, tenho me deitado com outras, você deveria fazer o mesmo, até onde eu sei poderia ter feito com várias outras.
Y: Poderia, eu sei, mas fico pensando nos dias em que você não podia ficar comigo, mas sussurava no meu ouvido que queria dormir do meu lado...
X: Pura carência, agora eu posso, agora eu durmo, mas ja dormi com você também
Y: Sim, por trinta minutos antes de eu te levar pro hospítal, você se lembra?
X: Lembro, você vacilou, devia ter contado essa história no sábado parte VII...
Y: Eu devia ter contado tanta coisa em outros dias que isso já não importa, você não parava de falar, não me deixava dormir
X: De manhã você é chata...
Y: Eu sempre sou chata, de manhã é ainda pior, eu quis te bater o dia que você me acordou pulando em cima de mim até porque pensei que você era outra...
X: Mas ficou feliz depois, quando me viu ao seu lado... aliás eu te fiz feliz?
Y: Fez... Mas eu preferia nunca ter conhecido o calor, porque agora o frio me parece ainda mais frio.
X: Quer um cigarro? Dizem que também esquenta
Y: Não, eu larguei os cigarros
X: Pra me impressionar?
Y: Pra te impressioar...
X: E você não vai desistir nunca?
Y: Vou, domingo eu desisto... você vai entender, as cores, vão me faltar cores se eu te encontrar
X: Eu te levo um pote de tinta, se eu for... mas não vou, aliás se eu for vou fugir de você, vou estar com outra, ja deixo avisado...
Y: Por Deus eu sei, você sempre está, mas me entenda por favor, sou sistemática, se nada mudar até lá, eu esqueço, me liberto
X: Fácil assim?
Y: Nunca disse que seria fácil, mas você sabe que todo novo começo implica em um novo fim.
X: E por que começariamos algo novo logo no dia que o nosso algo velho terminou?
Y: Começariamos?

1.6 James Blunt - No Bravery


Sexta parte VI

(A analogia)

Y: Acho que isso é o que mais de romântico existe em mim
X: Esse projeto s
em pé nem cabeça?
Y: Sim, esse mesmo
X: Mas e sua caminhada de duas horas na chuva? e seu buquê de cinquenta margaridas?
Y: Isso tudo é m
uito físico, o que faço agora é mais espiritual...
X: Eu prefiro atos do que palavras
Y: E eu tento com as palavras preparar o campo pros meus atos, não tem dado certo, não tenho recebido nada em troca...
X: Já era de se esperar.
Y: Sim, o X hostil sempre ganha do outro que eu criei ou recriei usando excertos do que você ja foi um dia
X: Você tem mani
a de viver no passado, já diria sua velha bolsa!
Y: E o que tem e
la? Eu gosto dela....
X: É velha, devia ter jogado ela fora faz muito tempo
Y: Mas como? por que se é dela que eu gosto?
X: Sua mãe ja deve ter te oferecido comprar várias outras, você devia dar uma chance pras outras bolsas....
Y: É mesmo da bolsa que estamos falando?
X: Acho que não, alé
m das teorias peguei mania de criar analogias também
Y: É coisa de gente tími
da, que da um milhão de voltas em volta do bolo pra finalmente pegar um pedaço, que fala, fala, fala, que tem o que dizer, mas que geralmente nunca diz o que queria no começo da história toda
X: E o que você quer?
Y: O que você quer com essa de bolsa?
X: Eu quero que você
compre uma bolsa nova...
Y: Tem certeza?
X: E eu lá dei sinal de algo diferente?
Y: Deu... ou foi meu neurotismo que achou fogo onde só tinha fumaça?
X: Foi, sempre é
Y: Hoje é o penúltimo dia, vamos ao mirante? passamos a noite lá.. em claro, você conversa comigo a noite toda e me convence a comprar uma bolsa nova!
X: Pode ser, é bonito lá?

Y: Confia em mim?
X: Não devia, mas sim...
Y: Então, o que acha?
X: Acho que devia confiar mais em você, já que estamos aqui, já que a noite é agradável quando se pode escolher quantas estrelas têm no céu, me conta o que você vê de tão romântico em tudo isso?
Y: Eu criei um mundo intermediário pra gente, não vê?
X: Com mirante
s e músicas bonitinhas?
Y: Com tudo o que você quiser, pelo tempo que nos puder alcançar, você pode escolher de que cor pintar o nosso céu, quanto
s minutos dura nossa noite, eu deixo nas tuas mãos, aqui em cima é tão melhor
X: É agora que falamos das cores?
Y: Podemos se assim desejar...
X: Não, estava interessada em saber mais sobre o seu romantismo fracassado, você disse que as cores eram no último
Y: Pois bem, tenho pensado bastante nisso, eu gosto de conversar com você, as pessoas gostam de ver nossas conversas, as pa
lavras que não conseguem sair da minha boca, pelas mãos jorram nos papéis, eu penso em prolongar o projeto
X: Pra isso vai ter que pedir pra mim.
Y: Ora, estamos no mirante, ainda não acabei de contar quantas estrelas estamos vendo, mas são muitas, acabei de te pedir.
X: Não, vai ter que pedir pra mim, eu... real, posso estar te achando uma idiota, posso estar te odiando e você nem sabe, vai ter que pedir pra mim.
Y: Me falta coragem....
X: Pois bem, se eu-eu-mesma ler e ignorar ja sabe que a resposta é não, mas se eu responder quem sabe...
Y: Isso e
sta beirando a loucura, você que eu criei perguntando coisas por mim que eu criei pra você que é real!
X: Tem idéia melhor?
Y: Não...
X: Então prossiga com o romantismo.
Y: Te fiz tão mocinha, me fiz tão herói, tem pessoas que nem conhecem nada da gente e torcem pra que esse nó se desfaça elegantemente, eles te adoram.
X: Você m
e fez encantadora
Y: Você é encantadora, disseram que uma das tuas falas era genial, uma das que eu escolhi pra ti, você-um-gênio-mocinha, eu-herói-maluco, e quem disse isso do genial não é uma qualquer não, é uma especial, muito especial que entende de mim, talvez agora entenda até de você...
X: Tem tanta
gente envolvida como eu penso agora?
Y: Acho que sim, me espanta também, eles conversam conosco, vou prolongar o projeto
X: Por mim?
Y: Por mim, por você, não por nós-o-conjunto, por nós-individual, merecemos tal grandeza?
X: Eu mereço....


1.7 Death Cab For Cutie - The Ice Is Getting Thinner


Sábado parte VII

(O mirante)

X: Bom dia!
Y: Por que bom dia se nós nem dormimos?
X: Eu só quis ser simpática...
Y: Comigo e ainda por cima de manhã?
X: Não é uma manhã qualquer, hoje é sábado
Y: Nosso último dia
X: Você deveria ter reservado o episódio do hospital pra contar hoje!
Y: Me ajuda a contar?
X: Você não se lembra?
Y: Lembro, é claro. Ainda hoje sinto o seu perfume me acordando, lembro que abri a porta de manhãzinha, você estava tão animada...
X: E você estava de ressaca, usando aquelas pantufas...
Y: Sim, você gostava delas, no meio das nossas bobagens deu até nomes para elas
X: Se eu tivesse ficado tão doente quando você acho que teria te entendido melhor
Y: Teria, mas não ficou. Tive dó do casal que nós vimos...
X: Eu estava rindo do médico, deitei a cabeça no seu ombro, não queria ver o sofrimento deles.
Y: Nessa hora sua mãe ligou, eu me sentia tão grande ali naquela sala enquanto segurava as tuas mãos, e a ouvi dizer algo sobre nhoques...
X: Ela me pediu pra escolher o que eu queria comer no almoço.
Y: Quis tanto cuidar de você, te levar pra casa...
X: Mas não levou, ficou na sua preparando uma outra grande festa pros seus amigos.
Y: Era tudo vazio, menos quando você esstava comigo, agora eu vejo que nada daquilo era real, nada além da gente... eu imaginava seu almoço em família enquanto eu preparava drinks pruma festa que eu nem sei porque fazia, todo sábado era igual, eu ficava te esperando, sem você não tinha graça, nada daquilo, nada do meu deslumbramento, eu sentia sua falta em cada centímetro daquela casa amarelinha... Eu te esperava, eu te espero...
X: Tarde demais pra esperas!
Y: Vamos descer?
X: Por que? Não gostou de ficar aqui comigo?
Y: Por mim ficaria pra sempre, mas não é justo, eu sei, percebi faz tempo que preciso deixar você ir embora, eu te levo pra casa...
X: Mas assim tão cedo?
Y: Como cedo? Passamos a noite toda aqui.
X: Poderíamos passar outra ou voltar e pausar o tempo há horas atrás quando estávamos a contar estrelas....
Y: Podemos tudo, aqui em cima do mirante é você quem manda.
X: Pois então vamos prolongar, não permanentemente porque essa decisão não é minha, mas sim dela... só por agora, prolongaremos por um dia.
Y: Não vejo problema algum
X: Nem eu, me diz coisas bonitas?
Y: Vamos falar de cores?
X: Minha teoria...
Y: Eu gostei dela, é tão bonita quanto você e pra confessar antes de te conhecer tudo em mim era preto e branco, xadrez e listrado... Te conheci por causa de um suposto noivado e uma lata de coca-cola, você se lembra?
X: Lembro ,você disse coisas que eu não entendi.
Y: Você também, usou expressões que eu nunca tinha ouvido antes, eu acho que não nos entendemos.
X: Mas nos gostamos, não? você era diferente de todo mundo, tomava coca-cola e que relevância teria isso?
Y: Era uma lata vermelha que você dividiu comigo e por causa dela começou a colorir meu mundo, foi em um domingo por que não poderia ter sido em um dia diferente?
X: Porque domingo é um grande dia para nós, sinto muito por você viver tão cinza agora.
Y: Eu também, você está vibrando, é sua mãe no telefone, deve ser sobre nhoques....
X: Preciso voltar pra casa...
Y: O portão de lá é cinza, eu te levo até a esquina, te dou um abraço e sussuro no teu ouvido que nos vemos por aí
X: Não, nós nos vimos por aqui!

2.1 Smashing Pumpkins - Disarm

Domingo Parte VIII

(A ignorância)

Y: Esperava um pouco mais do que o que você disse
X: Eu disse que deixei você continuar, mas que era sem sentido ou propósito, você concordou...
Y: Se você disesse que a idade da pedra começou com a invenção do bronze, eu assinaria embaixo

X: E não foi?
Y: Sério mesmo?
X: Você quem começou....

Y: Eu disse que não sabia como terminar
X: Na verdade você devia contar o começo, se é afinal essa história que você quer contar
Y: No início não era, agora eu já não sei
X: Você sabe que era, no fundo você sabe
Y: No fundo eu não vejo porque escrever no presente uma história que aconteceu no passado
X: Você queria um novo começo, um novo final escrevendo um bom enredo no presente?
Y: Não sei o que eu queria, acho que estava me enganando
X: Você gosta de se enganar, te faz bem, te conforta...
Y: Sim, é verdade, eu acho que estava pensando em mudar o rumo de tudo escrevendo no presente
X: Mas você ja sabe o começo, o meio e o fim, não tem como mudar nada, devia ter escolhido outro tipo de escrita
Y: Devia ter escolhido outro tipo de mulher...
X: Deu tudo errado!
Y: Eu queria que você me ajudasse a consertar
X: Eu poderia, mas não quero, acho que você merece cair e sofrer como um cão de rua
Y: Deixei mamãe me esperando pra te ver, juro que não foi premeditado, te encontrei sem querer...
X: Logo de manhã, quis te ignorar
Y: Me sentia tão mal, não podia ficar, mas não queria partir
X: A história da sua vida, não é mesmo?
Y: Sempre foi, acho que eu sempre escolho partir
X: Você devia escolher mais rápido, o teu problema maior é o tempo
Y: Como?
X: Você perde o tempo das coisas, se fosse ficar deveria ter ficado mais, lutado melhor, se fosse partir deveria ter ido antes, encontrado sua mãe antes dela ir embora, ter consertado tudo, você escolhe sempre errado, ela foi embora, você achou que aquela manhã mudaria alguma coisa?
Y: Achei, e errado como se eu sempre escolho você?
X: Porque sim, o teu problema é o tempo que você não enxerga o quanto confunde, me escolheu no tempo errado, ja é começo de outubro, seu tempo se esgotou faz tanto tempo...
Y: Não gosto quando começa um mês novo
X: Por que?
Y: É mais um que vem pra me lembrar que passei o anterior sem você
X: Você sabe que vai passar outubro também, e novembro, dezembro.... Y: Sem mamãe também, eu queria que você fosse busca-la no aeroporto comigo, daria tudo certo, ela veria que eu sacrifiquei uma despedida pra tentar um novo início, ela me perdoaria e você gosta tanto de aeroportos...
X: Mas não gosto de você
Y: Verdade, esse é o meu maior problema, eu sempre me esqueço que você não gosta de mim.
X: Não, ja disse que o teu maior problema é o tempo.

2.2 The Killers - Mr. Brightside

Segunda Parte IX

(O rumor)

X: Aquela fala de tempo não é minha, é?
Y: Não, eu tenho te misturado com algumas outras
X: Faz bem, quem sabe um dia eu sumo de vez, você arranja outro X
Y: Ah faz-me rir, X mesmo é só você
X: E por que isso?
Y: Por culpa da língua inglesa, é uma piada interna, não vou te explicar, se não você vai dizer que nem precisa porque você ja leu dentro de mim mesmo, não é?
X: Estranhamente não, acho que tenho criado vida própria, não me sinto mais parte do seu eu-lirico
Y: Culpa sua, gostava mais quando você pertencia a mim.
X: Você sempre tem alguém ou algo pra culpar, quando a culpa é sempre sua
Y: Minha?
X: Você sabe que sim, seu cinismo... aliás era o que eu mais me permitia odiar em você
Y: Você quer falar de ódio agora?
X: Melhor do que só falar de amor
Y: Pois bem, eu odeio as tuas mãos
X: Você as adorava, o que mudou?
Y: Me disseram que estas tuas mãos me traíram
X: E você acreditou?
Y: No começo não, mas agora ja não sei
X: Você poderia contar nosso começo com tanta graça e beleza, mas prefere atacar minhas mãos?
Y: Você quis falar de ódio e eu não me permito odiar nada em ti além das mãos
X: Nada mais?
Y: Bom, você me fez odiar as minhas, isso serve? Por você odeio também as minhas pernas
X: Você sempre se odiou e agora quer botar a culpa em mim.
Y: Não é verdade, minhas mãos me traem porque prometeram nunca mais escrever sobre você, logo as odeio, eu nunca trai ninguém a não ser a mim mesma
X: Isso não é um orgulho, é um fardo, você não sabe como é gostoso trair
Y: Então você admite?
X: Eu nunca te traí, agora as tuas pernas...
Y: Elas me traem também, como você sabe?
X: Porque seguem os meus passos, opostos aos teus, e não admito nada, ja disse...
Y: Também não acredito em nada, ja disse...
X: Isso não é justo, você vai acreditar em rumores
Y: Não, eu te defendia do mundo todo, qualquer pessoa que falasse algo de você, eu te defendia, perdi amizades por isso, movi rios pra limpar o seu nome.
X: E continua achando que eu te traí
Y: Continuo, mas não admito pra ninguém, acho que eu mereci não é mesmo?
X: As vezes que eu te trai?
Y: Traiu?
X: Não, mas eu quis...
Y: Eu teria merecido, você estaria certa, podia ter me traído o quanto quisesse
X: Não ia mudar em nada, não é mesmo? Se eu quisesse poderia ter feito você de mascote o tempo todo
Y: Você fez, ainda faz sem querer fazer, eu nunca olhei pra mais ninguém, nem nos meus pensamentos te troquei por outras...
X: Elas são mais bonitas do que eu, aquelas pelas quais você poderia ter me trocado
Y: Ninguém é mais bonita do que você.
X: Ninguém é mais idiota do que você!


2.3 Oasis - Lyla


Terça Parte X

(A banda)

Y: Hoje a parte toda é sua
X: Até quando você vai continuar com isso?
Y: Até conseguir fazer o que você disse que eu tinha que fazer
X: Começo e fim?
Y: Isso, o problema é que não sei como começar a falar do fim e nem como terminar a falar do começo
X: Você tava usando um all star xadrez, tinha feito uma grande festa um dia antes
Y: Não tava com a melhora cara do mundo, não é mesmo?
X: Nem perto, chegamos no fim do festival, foi uma sorte te encontrar
Y: Sorte?
X: Naqueles dias sim, vendo agora foi um puta de um azar
Y: A gente se encontrou no meio da multidão...
X: Parecia planejado, mas não foi...
Y: Você estava usando uma camiseta branca e um chapéu esquisito, um que não tinha ficado muito bem em você...
X: Era show daquela banda, daquela mesma banda que sempre se apresenta de graça...
Y: Mesma banda que por sua culpa não consigo mais ouvir...
X: Você me viu com outras ao som deles, eu estive com você no nosso primeiro dia ao som deles...
Y: Fizeram as músicas pra você, assim como eu faço meus textos, poemas, planos fracassados...
X: Sempre tão fracassados... e o chapéu não era meu...
Y: Ele tinha riscas brancas, você se deitou na grama e enquanto eu acendia o décimo cigarro as sete da manhã tentei conta-las
X: Conseguiu?
Y: Não, vira e mexe meus olhos se voltavam pra outras partes tuas, outras contagens, um fascinio inenarrável
X: Você era tão gentil, eu nem percebi que me olhava com segundas intenções
Y: Eu não olhava, lutei contra os meus desejos, mas a sua boca me fazia perder a contagem, me fez perder a cabeça
X: Nossos amigos é que se perderam, você me levou nas costas por brincadeira, acho que foi nesse momento que eu vi o quanto poderia mandar em você
Y: Ainda pode, eu sempre precisei de alguém pra mandar em mim, ja te disse isso antes
X: Você tinha se interessado por um cara, lembra?
Y: O que se interessou por você, como poderia esquecer? Pedro... maldito Pedro.
X: Ele era rídiculo, você foi mais ainda por ter ciúmes dele
Y: Foi culpa da insegurança, eu tenho certeza que foi
X: Eu estava atrasada, você me fez ficar tão atrasada
Y: Você me fez perder meu celular
X e Y: Foi culpa do papelão.
X: Sim, foi, eu deitei do seu lado
Y: Tiraram fotos, tinha me esquecido disso, achei uma delas sem querer um dia
X: E como ficou?
Y: Estávamos deitadas no papelão no gramado da República, na foto você me olhava, ela é assim só você me olhando e eu puxando minha franja pra cima pra poder te olhar finalmente com segundas intenções
X: Eu te olhava?
Y: Sim, eu tinha acabado de comprar uma outra coca-cola, tinha feito amizade com um homem estranho, o nome dele era Carlos se não me engano....
X: E ele tinha uma esposa, uma moto, tinha virado a noite no festival e trabalhava com informática
Y: E parecia o John Lennon, você se lembra...
X: Gostei daquele dia
Y: Minhas mãos tremiam, eu ja tinha suado até a ponta dos meus dedos
X: Eu sei, você tinha tanto medo, você ainda tem tanto medo....
Y: Eu tinha medo de acabar me apaixonando, tinha medo daquele turbilhão de sentimentos que viriam se nossa tarde pasasse de olhares intencionais
X: Passaram até demais, acidentalmente nós viramos o rosto ao mesmo tempo, a sua bolsa, essa que você teima em não trocar nos serviu de travesseiro, você pegou na minha mão e eu pude sentir que você estava nervosa, eu sorri
Y: Eu demorei pra ter certeza que você queria
X: Eu queria tanto...
Y: Quando eu tive certeza quis fazer graça, demoramos, nossos narizes sempre se encontravam primeiro, era nossa brincadeira, não era?
X: Eu deixei meu pai na mão, ele queria que eu asistisse o jogo do Palmeiras com ele
Y: No nosso primeiro dia eu ja sabia um dos seus defeitos, palmerenses....
X: Você era corinthiana, eu sabia que não ia dar certo, todo mundo sabia disso, mas não conseguimos parar não é mesmo?
Y: Me pergunto porque...
X: Você sabe a resposta!
Y: Porque eu te amei primeiro, sem antes saber como era amar alguém.
X: Isso é bom, você esta parando de tentar se enganar ou negar seus rídiculos sentimentos.
Y: Amém!

2.4 Clem Snide - Do You Love Me


Quarta XI

(A eleição)

X: Detestava caminhar ao seu lado, você olhava pro chão e nunca nos meus olhos.
Y: Era por cuidado, ficava atenta aos obstáculos do caminho pra te salvar de tropeços e quedas
X: Você e essa sua mania de super-herói...
Y: Tenho, sempre tive... inclusive agora no projeto me compararam a um deles, e é claro você foi comparada a um vilão
X: Deixe-me adivinhar qual!
Y: Não deixo, se você acertar vai levar mais uma vez o crédito por algo que não te pertence
X: Você tem medo que a inteligência do meu X seja maior que a do teu Y.
Y: Claro, tenho pavor disso, por que o vilão seria mais inteligente do que o mocinho?
X: Porque a inteligência representa uma frieza que apesar dos teus esforços não faz parte de ti.
Y: Se agora determinamos que eu sou burra, o que me resta?
X: As suposições, acabou de fazer uma, não disse que você era burra.
Y: Disse que eu queria ser algo que não sou, isso não é burrice?
X: Sim, isso é. Por isso estou dizendo você é o herói, eu sou o vilão-frio-sábio-calculista
Y: Não me confunda, quem calcula aqui sou eu.
X: Você é heróica demais, gentil e leal demais pra me fazer qualquer mal, tudo o que você faz é por amor...
Y: A caminha que você odiava fazer comigo também, meu medo maior eram os bueiros, calculava que se você caísse em algum deles eu me sentiria impotente sem ter forças pra te puxar de volta, pra te salvar, pra te proteger...
X: Era por isso que você não me olhava?
Y: Sim, eu ja disse que tudo tem um motivo.
X: Não, nem tudo. As tuas manias eram desprovidas de razões.
Y: Eu não tenho manias...
X: Ah, você tem e muitas. Até mesmo nas caminhadas, as vezes você parava para olhar o nada, ou pra escrever algo maluco que não podia esperar.
Y: Ainda hoje faço isso...sabe, estas linhas mesmo estou a escrever atrás de um panfleto, hoje é dia de eleição e a rua está coberta deles.
X: Foi hoje que você me deixo o CD, econdido no meu portão e não me avisou a tempo....
Y: Supôs que você queria só a música, mas que seria melhor por sua vontade não nos encontrarmos, logo pensei que o ato silencioso seria gentil sendo impessoal
X: Não funcionou, nem o CD, nem a gentileza... Você está escrevendo no caminho de volta, não é?
Y: Sim, as ruas estão desertas, só se vêem loucos e bêbados, em dias assim fico feliz por você não estar comigo, gosto de te proteger de domingos cinzentos.
X: Você se curou da paranóia dos números, esta contando um domingo na quarta feira.
Y: Me curei de muita coisa meu bem, hoje percebi inclusive que você é meu único vício.
X: Se falarmos de vícios vamos nos expor, fala mais da rua...
Y: Pois então, ela está fria, passei pela praça do Carmo por onde sempre andávamos antes, aos domingos ela abriga mendigos e delinquentes, não casais apaixonadinhos como na nossa época.
X: E medo, você não tem?
Y: É claro que tenho, das vezes que e fui assaltada foi por isso, esse vício de parar no meio da rua pra escrever...
X: Pensei que eu fosse seu único vício.
Y: Não, tenho as escritas, minhas observações detalhistas a todas as mulheres e as maçãs...
X: Acho que você está me culpando....
Y: Não, estou só escrevendo, fazendo a única coisa que se faz com papel e caneta, estou contando estórias
X: Sobre culpa?
Y: Sobre você, toda sua grandiosidade, você-só-você-sempre-você!

2.5 Sufjan Stevens - The Dress Looks Nice on You


Quinta Parte XII

(O sonho)

Y: Isso é uma maldição!
X: O que?
Y: Você, esse projeto... minhas manias e meus vícios.
X: Você não consegue parar, não é mesmo?
Y: Quem me dera, se eu pudesse queimaria todas as folhas do mundo pra não ter onde escrever.
X: Te sobrariam capas e contra-capas dos livros, soube que o meu nome ou palavras relacionadas a ele estão rabiscadas nos teus livros.
Y: Os queimaria também, todos os que me lembrem você.

X: Te sobrariam teclados, paredes, tuas mãos e braços. Você não pode fugir disso.
Y: Imagine os teus piores defeitos, aquilo que mais detesta em você rindo na sua cara, debochando das tuas fraquezas...
X: Estas tuas folhas te consumem...
Y: Eu exponho tanta gente, não consigo evitar, estas minhas folhas se escrevem quase sozinhas...
X: Mentira, você tem uma escolha, existem "borrachas" e "backspaces".
Y: Não funcionam comigo, é como se o agora não existisse, como se cada palavra escrita ou digitada fosse imutável.
X: Eu pensei que você controlasse tudo.
Y: Eu também, mas com isso não posso, não consigo...
X: Você está zombando do destino
Y: Por que?
X: Esta lutando contra algo que te faz parte.
Y: Isso não pode ser meu fardo, deveria ser uma qualidade. Eu não posso ser uma escritora, não tenho o talento necessário e não posso contrariar mamãe.
X: Você não pode viver por ela, nem por mim, eu lembro que também tentava te convencer a seguir carreiras mais tradicionais
Y: Eu poderia facilmente associar essa palavra a um irônico duplo sentido.
X: Não tem graça, estou falando da sua carreira, do seu futuro, não aquelas nada tradicionais que você usou no passado.
Y: Eu não quero falar de futuro, se até você me convencia de que meu sonho era uma bobagem, os outros estão certos sobre mim.
X: Mudei de idéia, sempre te pego escrevendo escondido, mesmo que você seguisse os desejos da tua mãe, ainda sim não seria bem sucedida
Y: Eu posso ser boa em qualquer coisa.
X: No seu mundo sim.
Y: Meu mundo?
X: Esse que você criou com as folhas que se escrevem sozinhas, tem vivido tanto dentro dele que não conseguiria partir...
Y: A realidade é uma ilusão, se dentro de mim eu vivo melhor, pra que eu vestiria um terninho e defenderia um sistema que eu mesma não apoio?
X: Porque é o que mamãe quer.
Y: Mas agora não sei que caminho seguir, acordar do meu mundo significaria a mediocridade, ser normal...Há algo tão mais extraordinário a ser explorado dentro da minha criação, eu sinto isso...é tão inevitável quanto o desgosto de mamãe ao ler estas linhas.
X: Você não pode acordar, nem se você quisesse poderia acordar e você não quer.
Y: Sou feliz no caos do meu mundinho, se ao menos não me sentisse tão culpada... aqui é tão mais bonito que me permito ressuscitar antigos sonhos.
X: Ah sim, os cedros, o sítio, os teus roteiros de cinema....
Y: Você!
X: Eu era seu sonho?
Y: Vestidade de realidade... meus cedros, papéis, canções e você. Só precisaria disso.
X: Você ainda tem cedros e papéis...
Y: Não, plantaram eucaliptos, acredita? Eucaliptos...
X: Então você ainda tem os papéis, deveria casar-se com eles porque os teus papéis são teu futuro, presente e passado, você é condenada e viciada neles.

2.6 The Kooks - Seaside

Sexta Parte XIII

(O Acordo)

Y: Gostaria de te propor um acordo, tenho previsto o fim do projeto....
X: E quando você vai me libertar?
Y: Eu preciso de 27 partes, depois disso fecho a sua pasta.
X: Alguns casais tem músicas, filmes ou até mesmo poemas que os representem..nós temos um número.
Y: Meu doce, doce 27
X: Esse é o famoso adjetivo?
Y: Sim, cai bem com o teu nome, tem gente que quer te conhecer pela sua boa fama de pessoa ruim.
X: Dia 27 você vai me procurar de novo?
Y: É provável, no último eu achei que tivesse sido coincidência, mas talvez não tenha sido.
X: O dia 27 te salvou...
Y: Nada me salvou, você está claramente me zombando...
X: Não, você costumava acreditar apenas no acaso
Y: Eu costumava não acreditar em nada, nem ao menos no acaso.
X: Me encontrar no dia 27 do mês passado significa algo...
Y: Me fez acreditar...
X: No destino?
Y: Se não foi coincidência, dia 27 só pode ter sido destino.
X: Seu ceticismo cedeu ao nosso número
Y: Meu sarcasmo cedeu aos teus encantos.
X: Você se curvou pra mim.
Y: Eu me ajoelho por você
X: Eu ganhei, seja la qual tenha sido nossa competição, eu ganhei.
Y: A mim não importa, sou de qualquer forma destinada....
X: Todos nós somos...
Y: Mas meu destino é fracassar, do tipo que compra ingressos antecipados e fica esperando mulheres nas bilheterias.
X: Mulheres, plural?
Y: Tenho me interessado por certas bolsas, uma delas em especial me deixou plantada na cadeira de um teatro.
X: Eu te deixei em uma ópera, foi naquele dia que nossos problemas começaram
Y: Domingo dia 29!
X: Sexta dia 27 foi a última vez que você me amou, depois disso só tivemos obsessões
Y: Foi culpa do maldito número, veio e levou meu destino com ele.
X: Faz todo sentido do mundo, eu deixei de te amar no dia 27
Y: Eu me apaixonei por você no 27
X: Meu aniversário é dia 27
Y: Você disse que seria eternamente minha no mesmo dia.
X: Eu menti
Y: Eu sei
X: Você tem 27 dias pra me esquecer
Y: Dessa vez eu quero te esquecer, eu mereço te deixar pra trás.
X: Não use bolsa alguma nesse meio tempo.
Y: Não vou usar, quem tem abusado de bolsas novas e resgatado as velhas é você.
X: Eu posso, estou curtindo as bolsas, não apenas usando-as.
Y: É por isso que ainda não experimentei nenhuma, respeito o proceso de escolha das bolsas, não quero comprar uma descartável que se usa e joga fora depois de uma unica noite.
X: Você está pronta pra vestir uma nova, mas espere 27 dias pra beija-la, seja la qual for a escolhida...
Y: Como o adiador de prazeres?
X: Exatamente como ele...

2. 7 Stereophonics - Don't Let Me Down

Sábado Parte XIV (O destino)


Y: Eu quero ir embora, seu mundo está me agarrando, envolvendo meu corpo inteiro e engolindo meus pensamentos...
X: Meu mundo? Este aqui é teu, teoricamente é você quem controla tudo nele.
Y: Você naõ entende, omundo, nosso paralelismo é você
X: Não sou eu. Por que você ainda faz isso?
Y: Não vou falar dessas coisas, estava orgulhosa por ser capaz de elaborar um texto inocente.
X: Você estava sendo inocente! Desistiu por que?
Y: Não sei, quando eu volto aos meus velhos vicios o maquinário funciona de outra forma, ele descansa um pouco...
X: Te faz achar que eu sou um monstro...
Y: Não, isso nunca.
X: Então não te entendo, achei que você se dopasse pra conseguir me odiar.
Y: Nunca te odiaria, não você, tuas mãos sim, sempre as mãos.
X: Eu quero entender...
Y: Eu não sou inocente, quando me entrego ouço música dentro de mim.
X: Você me assusta!
Y: Você me cansa, é como se meu cérebro fosse dividido em três partes: eu, você e a música.
X: Você ouve música enquanto eu falo contigo?
Y: Você naõ fala comigo, você impregna minha cabeça, te ouço do lado esquerdo, me ouço do lado direito e a música fica no centro, vem certeira e em linha reta me invadir.
X: Chegou a hora de falar sobre isso
Y: Não quero, não posso, vou acabar sendo clichê, o tipinho que só escreve textos pesados sobre assuntos polêmicos.
X: Desde quando falar sobre vicios é ser polêmico?
Y: Não seria o contrário?
X: Hã?
Y: Você falou errado, desde quando deixou de ser polêmico?
X: Você não chega nem perto de ser tão moralista quanto finge ser.
Y: É hipocrisia, sou quase uma farsante
X: Calma, só estamos contando histórias, sobre vicios por que não?
Y: Mas X e se o público ficar confuso?
X: É normal, não se pode ter tudo sempre
Y: Tem razão...além do que fica bem, confusão quando falamos de entorpecentes...
X: Dizem que eu te larguei por culpa disso
Y: Largou?
X: Foi você quem me largou, deu as costas e saiu andando
Y: Você estava deitada em cima da sua primeira e possivelmente última amante.
X: Você desviou nosso destino por ciúmes?
Y: Era pra menos?
X: Era você quem eu amava, não que você merecesse, mas eu amava...
Y: Não desviei nada, nosso destino está aqui, escrito nas últimas, penúltimas e primeiras páginas
X: Nosso destino era ser pra sempre. Nem tudo que você escreve vai se realizar, você sabe disso, não? Você não esta escrevendo o futuro
Y: Claro que sei, meus amigos parecem não saber, eles acham que eu escrevo pra depois fazer acontecer, forçar encontros e mudar o acaso...
X: A vida copiando a arte, a arte copiando sua vida..
Y: E os elementos ficticios é claro...
X: Assim como as músicas que você ouve com os cigarros que você não fuma...
Y: Assim como o espelho que você quebrou no primeiro dia...
X: Você quebrou! Passamos ao mesmo tempo, mas foram as tuas mãos trêmulas que se desequilibraram, foi sua adrenalina incontrolável que estragou tudo
Y: Minha adrenalina não fazia parte de mim.
X: Eu sei que não, foram os outros...
Y: Pois claro, disso sou inocente, ja voce..
X: Eu também!
Y: Então fiquemos assim, todos inocentes, é bonito não?

3.1 Bob Dylan - Mr. Bojangles

Domingo Parte XV(A confissão)

Y: Você tem guardado?

X: O que?
Y: Minhas folhas...elas são as minhas confissões.
X: Você é uma pessoa terrível
Y: Terrível, eu sei.
X: Eu tenho que admitir e reconhecer sua capacidade de auto-punição
Y: Minhas folhas...
X: Seu pai, você se pune através dele, ele é seu pão, sua comida...
Y: Todo o amor que me faltou nessa vida.
X: Você foi na casa dele, você sabia que ia se machucar, o Pedro...
Y: Sim, Machuca, o Pedro Machuca, assistimos esse filme, e eu preferiria Almodovar, meu pai não se sentiria entediado, não levantaria...
X: Mas ele levantou, não é mesmo?
Y: Eu o segui...
X: Você ouviu aquele barulho familiar vindo do banheiro, vasculhou a bolsa dele...
Y: Ele tinha mais sacos de farinha do que a Cracolândia inteira...
X: Você o roubou?
Y: Não, eu chorei.
X: Por ele?
Y: Por mim, por este monstro que eu estava me tornando.
X: Naquele dia eu tinha te magoado, te confundido, se eu soubesse que iria ver seu pai não teria sido tão cruel.
Y: Eu sempre preferi sua crueldade ao seu silêncio...
X: Não foi o melhor dia pra ser cruel, o que você fez depois de ter mexido nas coisas dele?
Y: Abri saco por saco com raiva, espalhei pelo chão imaginando ele ajoelhado como um cachorro e fui embora
X: Você me ligou já era tarde, mas eu não atendi! Era sobre isso?
Y: Era, eu precisava de você...
X: Eu te reneguei mais do que três vezes, você mereceu..
Y: Você disse que estaria sempre comigo
X: Eu menti, quando você mais precisou de mim eu te deixei...
Y: A mim não importa...
X: Pois pra mim importa e muito, você acha que é fácil?
Y: O que?
X: Te negar? É a terceira semana e eu não tenho mais forças pra isso
Y: Levanta, ainda falta tempo...
X: Eu sou o monstro, seu vilão.
Y: Não amor, não fale assim...
X: Não me chame de amor, eu te magoei.
Y: O que é isso? Uma lágrima, naõ pode ser...
X: É, pode ser e é, eu te amo tanto, mas te odeio ainda mais, isso nos estragou!
Y: Eu sinto muito
X: Você veio do pó e ao pó retornará
Y: A crueldade voltou?
X: Em meio a esse mar de sujeira e depressão não vejo como ela poderia não voltar
Y: Você disse que sempre estaria comigo, ainda há tempo...
X: Não consigo abandonar esta máscara que você me impôs, sou tão fria, tão forte...
Y: Eu tiro pra você...
X: Não, não me toque!
Y: Você já me disse isso antes
X: Daquela vez era brincadeira
Y: Eu levei a sério...
X: Você leva tudo a sério, não considere meu momento de fraqueza, esta lágrima nunca caiu e eu ainda te desprezo
Y: Pare de me negar!
X: Eu o fiz antes com prazer, mil vezes antes
Y: Mais do que três...
X: Limpa essa bagunça e vai deitar-se
Y: Sem você?
X: Sem mim, pra sempre, deite-se com as tuas sujeiras, sua imprestável.