quarta-feira, 29 de outubro de 2008

2.4 Clem Snide - Do You Love Me


Quarta XI

(A eleição)

X: Detestava caminhar ao seu lado, você olhava pro chão e nunca nos meus olhos.
Y: Era por cuidado, ficava atenta aos obstáculos do caminho pra te salvar de tropeços e quedas
X: Você e essa sua mania de super-herói...
Y: Tenho, sempre tive... inclusive agora no projeto me compararam a um deles, e é claro você foi comparada a um vilão
X: Deixe-me adivinhar qual!
Y: Não deixo, se você acertar vai levar mais uma vez o crédito por algo que não te pertence
X: Você tem medo que a inteligência do meu X seja maior que a do teu Y.
Y: Claro, tenho pavor disso, por que o vilão seria mais inteligente do que o mocinho?
X: Porque a inteligência representa uma frieza que apesar dos teus esforços não faz parte de ti.
Y: Se agora determinamos que eu sou burra, o que me resta?
X: As suposições, acabou de fazer uma, não disse que você era burra.
Y: Disse que eu queria ser algo que não sou, isso não é burrice?
X: Sim, isso é. Por isso estou dizendo você é o herói, eu sou o vilão-frio-sábio-calculista
Y: Não me confunda, quem calcula aqui sou eu.
X: Você é heróica demais, gentil e leal demais pra me fazer qualquer mal, tudo o que você faz é por amor...
Y: A caminha que você odiava fazer comigo também, meu medo maior eram os bueiros, calculava que se você caísse em algum deles eu me sentiria impotente sem ter forças pra te puxar de volta, pra te salvar, pra te proteger...
X: Era por isso que você não me olhava?
Y: Sim, eu ja disse que tudo tem um motivo.
X: Não, nem tudo. As tuas manias eram desprovidas de razões.
Y: Eu não tenho manias...
X: Ah, você tem e muitas. Até mesmo nas caminhadas, as vezes você parava para olhar o nada, ou pra escrever algo maluco que não podia esperar.
Y: Ainda hoje faço isso...sabe, estas linhas mesmo estou a escrever atrás de um panfleto, hoje é dia de eleição e a rua está coberta deles.
X: Foi hoje que você me deixo o CD, econdido no meu portão e não me avisou a tempo....
Y: Supôs que você queria só a música, mas que seria melhor por sua vontade não nos encontrarmos, logo pensei que o ato silencioso seria gentil sendo impessoal
X: Não funcionou, nem o CD, nem a gentileza... Você está escrevendo no caminho de volta, não é?
Y: Sim, as ruas estão desertas, só se vêem loucos e bêbados, em dias assim fico feliz por você não estar comigo, gosto de te proteger de domingos cinzentos.
X: Você se curou da paranóia dos números, esta contando um domingo na quarta feira.
Y: Me curei de muita coisa meu bem, hoje percebi inclusive que você é meu único vício.
X: Se falarmos de vícios vamos nos expor, fala mais da rua...
Y: Pois então, ela está fria, passei pela praça do Carmo por onde sempre andávamos antes, aos domingos ela abriga mendigos e delinquentes, não casais apaixonadinhos como na nossa época.
X: E medo, você não tem?
Y: É claro que tenho, das vezes que e fui assaltada foi por isso, esse vício de parar no meio da rua pra escrever...
X: Pensei que eu fosse seu único vício.
Y: Não, tenho as escritas, minhas observações detalhistas a todas as mulheres e as maçãs...
X: Acho que você está me culpando....
Y: Não, estou só escrevendo, fazendo a única coisa que se faz com papel e caneta, estou contando estórias
X: Sobre culpa?
Y: Sobre você, toda sua grandiosidade, você-só-você-sempre-você!

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