quarta-feira, 29 de outubro de 2008

3.2 Coldplay - Strawberry Swing


Segunda Parte XVI
(Os gatos)


X: Eu gosto de ver que você anda fazendo absolutamente tudo que eu te mando fazer
Y: Limpei a bagunça toda, arrumei o quarto, mas os cacos do espelho ainda estão la
X: Algo me diz que eles vão ser importante
Y: Também acho e não sei porque, mas não tive vontade e nem coragem de recolhe-los
X: Medo de se cortar?

Y: Eu me cortei alguns meses atrás...
X: E em um dos espelhos escreveu meu nome com sangue nas mãos, não foi?
Y: Não me lembro, não quero lembrar, obra da memória seletiva que você me ensinou a ter
X: Você devia dormir mais, esta pálida, atormentada

Y: Eu não posso, dormir significaria sonhar...
X: Sonhar seria me ver?
Y: Se fossem sonhos bonitos eu viveria dormindo pelas praças, carteiras e camas, mas não são

X: E os teus prés-sonhos?
Y: O que é isso?

X: Os minutos antes de você realmente dormir, aqueles em que deitamos a cabeça no travesseiro e pensamos em alguma coisa
Y: É deles que eu tenho mais medo.
X: Você tem medo de tudo!
Y: Prefiro ficar acordada, caindo por aí do que deitar e pensar no meu dia, pensar em como ele teria sido com você

X: Mesmo eu tendo passado todos os dias te atormentando o tempo todo?
Y: Com você eu ja me acostumei, é do outro você que eu falo, o real...

X: Pensar em mim te machuca!

Y: Sonhar com você é ainda pior, queria sonhar com os oceanos que te prometi, com um barraco qualquer que teríamos comprado a mil prestações com muito esforço, cheio de gatos e cachorros, você queria ter um de cada cor... e agora eu queria sonhar com os teus bichos, queria lembrar como era o tom da sua voz, esta que eu criei é tão falha!
X: Ao invés dos gatos e cachorros, você encheria tudo de amigos e não teríamos nunca privacidade, nunca tivemos.
Y: Vê? Essa sua voz tão grossa e ríspida não era assim antes..
X: Você criou uma versão monstruosa pra sua mocinha, como nos desenhos animados onde aparecem anjos e demônios suspirando no ouvido do personagem principal...
Y: Você era o anjo e agora é esse demônio sarcástico que tem me convencido a fazer coisas ruins
X: Se jogar da ponte... escrever nas paredes

Y: Isso também foi obra tua?

X: Tudo isso é obra minha, você acha que me criou, mas fui eu quem te fiz assim tão panaca
Y: Você está querendo me confundir, brincar com os meus poderes, só meus...

X: Você pode mandar em todas essas palavras, mas em você sou eu quem mando, sendo seu anjo ou seu demônio...

Y: Eu não devia ter limpado aquela bagunça de antes, nem ter me deitado a hora que você mandou, me fez pensar antes de dormir, me fez sonhar com o que não queria sonhar.

X: Te fiz enlouquecer, parar tudo que estava fazendo pra desenhar nas paredes do colégio esboços sobre peças que nunca vão ensaiar!

Y: Eu odeio dormir, odeio aquelas paredes e as peças que ninguém nunca vai ensaiar.
X: Você está nervosa, eu estou vencendo... vou roubar tudo o que você mais ama pra depois escrever sobre o quanto essas coisas são insignificantes, pra você se sentir tão exposta e ridiculamente maltratada como eu.

Y: Mas tudo o que eu escrevo é pra ter efeito contrário, eu quero que você se sinta a mulher mais linda do mundo, a mais especial, a minha preferida dentre todas elas, quero que saiba que se fizesem uma peça sobre isso a melhor atriz do país não estaria a sua altura em graça e beleza, você é o anjo...

X: Eu sou tudo isso, eu real sou mesmo o anjo e você me perdeu, o que sobrou foi essa tua imaginação que me faz demoníaca pra se esquecer no meio do seu senhor preferido, o tempo.

Y: É, quase me esqueço, penso em gatos e logo amoleço, continue sendo cruel.

X: Posso mandar você dormir as três da tarde, isso seria cueldade suficiente....

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