quarta-feira, 29 de outubro de 2008

2.5 Sufjan Stevens - The Dress Looks Nice on You


Quinta Parte XII

(O sonho)

Y: Isso é uma maldição!
X: O que?
Y: Você, esse projeto... minhas manias e meus vícios.
X: Você não consegue parar, não é mesmo?
Y: Quem me dera, se eu pudesse queimaria todas as folhas do mundo pra não ter onde escrever.
X: Te sobrariam capas e contra-capas dos livros, soube que o meu nome ou palavras relacionadas a ele estão rabiscadas nos teus livros.
Y: Os queimaria também, todos os que me lembrem você.

X: Te sobrariam teclados, paredes, tuas mãos e braços. Você não pode fugir disso.
Y: Imagine os teus piores defeitos, aquilo que mais detesta em você rindo na sua cara, debochando das tuas fraquezas...
X: Estas tuas folhas te consumem...
Y: Eu exponho tanta gente, não consigo evitar, estas minhas folhas se escrevem quase sozinhas...
X: Mentira, você tem uma escolha, existem "borrachas" e "backspaces".
Y: Não funcionam comigo, é como se o agora não existisse, como se cada palavra escrita ou digitada fosse imutável.
X: Eu pensei que você controlasse tudo.
Y: Eu também, mas com isso não posso, não consigo...
X: Você está zombando do destino
Y: Por que?
X: Esta lutando contra algo que te faz parte.
Y: Isso não pode ser meu fardo, deveria ser uma qualidade. Eu não posso ser uma escritora, não tenho o talento necessário e não posso contrariar mamãe.
X: Você não pode viver por ela, nem por mim, eu lembro que também tentava te convencer a seguir carreiras mais tradicionais
Y: Eu poderia facilmente associar essa palavra a um irônico duplo sentido.
X: Não tem graça, estou falando da sua carreira, do seu futuro, não aquelas nada tradicionais que você usou no passado.
Y: Eu não quero falar de futuro, se até você me convencia de que meu sonho era uma bobagem, os outros estão certos sobre mim.
X: Mudei de idéia, sempre te pego escrevendo escondido, mesmo que você seguisse os desejos da tua mãe, ainda sim não seria bem sucedida
Y: Eu posso ser boa em qualquer coisa.
X: No seu mundo sim.
Y: Meu mundo?
X: Esse que você criou com as folhas que se escrevem sozinhas, tem vivido tanto dentro dele que não conseguiria partir...
Y: A realidade é uma ilusão, se dentro de mim eu vivo melhor, pra que eu vestiria um terninho e defenderia um sistema que eu mesma não apoio?
X: Porque é o que mamãe quer.
Y: Mas agora não sei que caminho seguir, acordar do meu mundo significaria a mediocridade, ser normal...Há algo tão mais extraordinário a ser explorado dentro da minha criação, eu sinto isso...é tão inevitável quanto o desgosto de mamãe ao ler estas linhas.
X: Você não pode acordar, nem se você quisesse poderia acordar e você não quer.
Y: Sou feliz no caos do meu mundinho, se ao menos não me sentisse tão culpada... aqui é tão mais bonito que me permito ressuscitar antigos sonhos.
X: Ah sim, os cedros, o sítio, os teus roteiros de cinema....
Y: Você!
X: Eu era seu sonho?
Y: Vestidade de realidade... meus cedros, papéis, canções e você. Só precisaria disso.
X: Você ainda tem cedros e papéis...
Y: Não, plantaram eucaliptos, acredita? Eucaliptos...
X: Então você ainda tem os papéis, deveria casar-se com eles porque os teus papéis são teu futuro, presente e passado, você é condenada e viciada neles.

Nenhum comentário: