quarta-feira, 29 de outubro de 2008

1.4 Regina Spektor - Fidelity

Quarta Parte IV

(A suposição)


X: E esse papo de música?
Y: Não é papo, é música, qual o problema?
X: Problema nenhum, só queria saber porque você falou de música, mas isso é exemplo pra confirmar minha teoria.
Y: Desde quando você tem teorias?
X: E por que o espanto? Não sou inteligente o bastante pra isso?
Y: Você é, agora eu vejo que você é muito inteligente.
X: Eu sempre odiei suas ironias
Y: Que bom que dessa vez não estou sendo irônica

----------------------------------------------Silêncio---------------------------------------------------


X: Estávamos indo bem até agora, não acha?
Y: Eu acho e por que paramos de ir bem?
X: Porque você nos calou, deixou o silêncio tomar conta da gente, eu até achei que demorou pra isso acontecer.
Y: Perdi a oportunidade de ter ligado o rádio, sincronizado a música, te beijado...
X: Você me beijaria?
Y: Se eu pudesse sim, pra descobrir como me sentiria, como você se sentiria, mas só se você também quisesse e se a música estivesse tocando.
X: A teoria era sobre isso
Y: Sobre os beijos?
X: Não, seus beijos eram insossos e só, a teoria era sobre os seus cálculos e planos.
Y: Não seja tão implicante, não sou assim tão calculista.
X: Você sabe que é, contava até a metragem da sua casa com os teus pés, contava os passos, as horas e as gramas só pra não ter que contar seus segredos.
Y: Eu me fechei pra todos os mundos, tive medo...
X: Das salsichas?
Y: De você.

---------------------------------------------Silêncio---------------------------------------------------


X: Hoje é o quarto dia do projeto e já estamos tropeçando nas palavras.
Y: Eu sei, estou até gaguejando.
X: Isso é normal, você sempre gaguejava.
Y: Ficava nervosa perto de você, me faltava fôlego, me sobravam gestos, como o aluno mais tímido da escola... aquele que geralmente se apaixona pela professora.
X: Você se apaixonou?
Y: Só uma vez e você?
X: Uma ou duas, por pessoas e coisas que você não conhece.
Y: Você supera tão fácil.
X: Ja tentei te ensinar, você não quer aprender.
Y: Como poderia? Isso sim seria irônico, uma meta-linguagem amorosa, a única pela qual me apaixonei me ensinando como esquecer tal sentimento.
X: Você sempre adorou as ironias.
Y: É verdade, isso tudo é irônico, já percebeu que a última palavra nos diálogos é sempre minha? Quando na verdade elas foram sempre as suas, suponha que você gosta do projeto, suponha que se importa com as minhas brincadeira literárias, a última palavra de hoje será só sua.
X: Não fale "suponha", me lembra da música, eu penso na possibilidade de um beijo...
Y: Te da dor de cabeça?
X: Sim
Y: Se um dia eu te encontrar, se a música estiver tocando e principalmente se você não tiver comido salsichas, eu vou...
X: Sorte a minha que nunca mais vamos nos encontrar!
Y: Sorte tua, não se esqueça que hoje a última palavra é você quem dá, diz qualquer coisa...
X: Éramos felizes nas quartas-feiras.

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